domingo, 13 de novembro de 2016

O tempo não é problema

Hoje,  no caminho da rodoviária o tempo era nosso inimigo, o ônibus já devia estar esperando na plataforma de embarque, e nós ainda no trânsito.  Ao meu lado o motorista do táxi, um sujeito franzino, pele clara, e uma aparência juvenil. Eu não sabia quem estava mais impaciente com o engarrafamento que nos cercava, eu para chegar a tempo na rodoviária ou ele para transportar outros clientes. Na verdade, dava para imaginar o porquê da sua pressa, pois era tempo de crise econômica, o salário mínimo tinha evaporado com a inflação e os trabalhadores, como ele, se viravam para sobreviver. 
Chegando ao destino, ao entrarmos numa avenida deparamos com um senhor idoso, de cabelos brancos, um corpo meio curvado pelo tempo e com uma bengala na mão, no lado direito da faixa de pedestres aguardando a travessia, e mais a frente um guarda de trânsito em sua rotina de vigilância.
 Assim que paramos próximo à faixa, o motorista bradou: Era só o que faltava, ter que esperar esse velho atravessar! No mesmo instante, aquela fala saltava muda da minha mente, mas permaneci calado observando o velho, com seus passos lentos apoiados na bengala, a atravessar a fileira de veículos com olhares aflitos, ele parecia como se caminhasse em outra realidade, uma realidade onde o tempo não é problema, onde o tempo era subordinado das pessoas e não comandante.
Quando chegou ao fim do trajeto, o senhor virou vagarosamente o rosto para nós, com um olhar sincero, um sorriso largo e acenou a mão com carisma, como se estivesse agradecendo pelo tempo concebido para sua caminhada até o outro lado da avenida.  Porém, não sabia ele, que nós só paramos por causa do guarda...

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